05 agosto 2009

Entrevista: Sandra Monte

Sandra Monte é jornalista e trabalha com animes, mangás e outros estilos de desenhos animados e quadrinhos há 8 anos. Já realizou trabalhos para a editora Abril, para o site Herói e para o Universo HQ. Atualmente é editora-chefe do site www.papodebudega.com, que traz notícias sobre entretenimento em geral. No Brasil é referência quando o assunto são as novidades relacionadas ao universo dos animes/mangás.
A jornalista concedeu ao Animation Info uma entrevista exclusiva, onde falou um pouco sobre o licenciamento de animes no Brasil e como está o atual mercado nacional de animação.

Você está a quase dez anos trabalhando na área de entretenimento (desenhos animados, animes e quadrinhos). Quando decidiu trabalhar neste meio?
O momento que decidi trabalhar nesta área foi quando fui à antiga redação da revista Herói. Eu queria trabalhar em um ambiente parecido com aquele, e falar daquelas coisas. Hoje, uma revista do gênero não faz mais sentido de existir com o advento da internet.

Seu site, o Papo de Budega, sempre destaca notícias sobre animações nacionais e festivais que incentivam a produção independente. O que ainda falta no Brasil para a indústria de animação conseguir competir de forma igual com os produtores estrangeiros?
O que é necessário - ao meu ver - é que as leis de incentivo realmente incentivem. Normalmente, fala-se em exibir as produções em TV públicas. Mas, desculpe-me, quem vê TV pública hoje em dia? Para incentivar e virar indústria, é necessário virar produto de massa e interessar a maioria. E isso não quer dizer que a qualidade ficará ruim. Mas, falta "obrigar" as TVs abertas a exibir animações nacionais.
Além disso, em eventos como o PIC Animação, percebi que falou-se muito em mercado externo. Acho isso válido. Mas, animação é extremamente concorrido lá fora. E em nenhum momento, que eu tenha visto, falou-se em licenciamento. Um dos fatores mais importantes para os produtos atuais.
É preciso que haja efetivamente um planejamento e apoio concretos. Pois só assim, cursos e faculdades poderão levar pessoas especializadas ao mercado. Coisa que ainda há pouco no Brasil. Se pararmos para pensar, é um conjunto tão grande de fatores difíceis de enumerar...

Em relação ao licenciamento de animes no Brasil, mesmo o país sendo um mercado em potencial, parece que as grandes distribuidoras não investem muito por aqui. A Toei por exemplo, começou a apostar mais no país (e na américa latina) faz pouco tempo. Porque o nosso mercado ainda é visto com receio por essas empresas?
O Brasil é um país muito grande fisicamente. A título de comercialização, TVs regionais não contam para as produtoras e licenciadoras. Por isso Cavaleiros do Zodíaco não deu certo na Rede 21.
Além disso, aqui há muita, mas muita pirataria. O pessoal realmente acha que as empresas não frequentam estes eventos, mas frequentam em "off". E não gostam do que veem.
Fora isso, há algumas peculiaridades de nossas TVs e nossa sociedade que "empacam" os animes. Como exibir animes em horários mais noturnos? As emissoras não investem porque acreditam que não terão anunciantes. E realmente, normalmente não têm... Logo, há muita limitação para as licenciadoras e produtoras japonesas e suas "afiliadas".


Os fãs brasileiros de animes são na maior parte formados por saudosistas, que cresceram assistindo suas séries preferidas durante as décadas de 1980 e 1990. No Brasil, ainda há espaço para essas séries "clássicas" (Cavaleiros do Zodíaco, entre outras) ou os canais apenas investirão em novas animações, principalmente aquelas de grande apelo comercial?
Cavaleiros do Zodíaco é um caso particular. Acho que realmente já deu o que tinha para dar. Outras séries clássicas poderiam dar certo aqui. Caso não tivessem problemas de horários e nem fossem barradas pela "classificação indicativa" do Ministério da Justiça. Classificação esta, que tem podado muita material bom.

Filmes de animação deixaram de ser "coisa pra criança", principalmente por causas de blockbusters produzidos pelos estúdios Pixar e DreamWorks. Mas animes de longa-metragem ainda não conquistaram o mesmo espaço nos cinemas do Brasil. Porque essa diferença?
Porque Disney, Pixar e Dreamworks têm distribuidores. Respectivamente Disney/Buena Vista e Paramount. E quando falo distribuidor, falo uma empresa que tenha total e completo interesse em divulgar o título. Os animes têm problemas inclusive nos Estados Unidos por causa disso. Lá, a empresa que melhor tem condições de distribuição é a Viz Media. Mesmo assim, é difícil um Naruto da vida ter êxito nos cinemas. Acredito que as produtoras e distribuidoras deveriam se instalar aqui para que esta situação melhore. Caso contrário, ficará tudo na mesma... Lamentavelmente.

Obrigado pela entrevista. Os leitores do Papo de Budega terão novidades em breve?
Terão sim. Esta semana o Papo de Budega fará cinco anos e terá uma super promoção. Espero que o pessoal curta. E espero muito sucesso a vocês do Animation Info!

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