Quadrinhos: Revelada HQ clássica censurada dos Trapalhões

Em 2009 o Universo HQ citou uma história em quadrinhos estrelada pelos Trapalhões que havia sido censurada nos anos 1980. Com argumentos de Orlando Costa e arte de Bira Dantas, a HQ fazia uma sátira com super-heróis dos gibis e trazia conotações políticas e sociais que acabaram forçando a Editora Bloch a realizar alterações na história original para evitar problemas com o governo ditatorial da época.

Décadas depois os fãs podem finalmente conferir como era a versão original da HQ na íntegra, já que Bira (Ubiratan Dantas), que trabalhou na revista entre 1980 e 1982, publicou em seu blog Charges do Bira todas as dez páginas já arte-finalizadas, porém ainda em preto e branco. O próprio cartunista também explica tudo que aconteceu na época. Confira:

"Criei o argumento, conversei com o Ely [Ely Barbosa, responsável pela criação das histórias em quadrinhos dos Trapalhões até 1988]. Disse que era sobre uma greve da Legião dos Super-Heróis que reivindicavam salário, férias e FGTS, depois acabava todo mundo em cadeia, que nem o Lula e a diretoria do Sindicato. Ele gostou, mas queria ver no papel. Pedi pro Orlando fazer o roteiro, foi aprovada pelo Ely e voltou pra que eu desenhasse. O Ely ainda mudou algumas coisas (pediu pra colocar o pirulito na boca do Homem-Lula e trocou as palavras "exigir" por "pedir", achou que ia facilitar a aprovação pela Bloch) e aprovou.

Essa história foi para o Rio e voltou com um recado: NÃO DEVE SER PUBLICADA, A NÃO SER QUE TENHA MUDANÇAS! A história voltou do Rio, censurada. Onde tinha GREVE, deveriamos escrever férias. Onde tinha DIREITOS TRABALHISTAS, deveriamos mudar pra descanso, folga, preguiça. O Ely ficou p(*) da vida. A gente não tinha roteiros censurados. E olha que nos gibis tinha uma liberdade total (ah, se fosse agora...): tiração de sarro com mulher, gay, negro, padre, militar, presidente... mas era isso ou não ter a história publicada e ficar sem receber. O Ely disse que não pagaria roteiro, desenho, arte-final, revisão, letras e cores. Eu ia ter que bancar do meu bolso. Conversei com o Orlando e ele preferiu mudar e publicar."

Bira explica que na ocasião fez cópias das páginas originais antes de devolvê-las, preservando em seu arquivo o material sem as alterações que foram feitas mais tarde pela editora, inclusive com o texto censurado. Abaixo você confere parte da história, que pode ser lida integralmente no blog Charges do Bira.

[Com informações do Universo HQ]